TESOURO DAS ABELHAS E OS SEUS BENEFÍCIOS PARA A SAÚDE

13/05/2025

A natureza é uma mestra generosa, e poucas criaturas a representam com tamanha perfeição como as abelhas. Pequenas guardiãs da vida, constroem colmeias que funcionam como verdadeiros laboratórios alquímicos, onde nascem substâncias com um extraordinário potencial terapêutico. De lá emergem mel, própolis, pólen, pão de abelha, geleia real e até o veneno de abelha, produtos naturais usados há milénios pelas medicinas tradicionais e cada vez mais reconhecidos pela ciência moderna.

Cada um destes tesouros guarda propriedades únicas. O mel adoça, nutre, cicatriza e protege. O própolis, resina vegetal transformada pelas abelhas, atua como escudo natural contra infeções. O pólen, recolhido das flores, é um superalimento riquíssimo em proteínas, enzimas, antioxidantes e vitaminas. O pão de abelha, fruto da fermentação natural do pólen com néctar e enzimas, é ainda mais biodisponível e benéfico, uma verdadeira iguaria terapêutica, pouco conhecida, mas de valor notável. A geleia real, alimento exclusivo da rainha, é tida como tónico vital, promotora de longevidade e equilíbrio hormonal. E o veneno de abelha, apesar de temido, revela-se promissor em abordagens anti-inflamatórias e neuroprotetoras.

Da medicina popular aos estudos clínicos, os produtos das abelhas são símbolos de uma saúde que floresce da terra,e do ar, convidando-nos a resgatar a sabedoria ancestral com respeito, consciência e ciência.

Mel - doçura e poder terapêutico


Mais do que um adoçante natural, o mel é um alimento funcional, com propriedades antimicrobianas, antioxidantes e cicatrizantes. A sua composição varia consoante a origem floral, mas contém açúcares naturais (glucose e frutose), vitaminas, enzimas, ácidos fenólicos e compostos bioativos que contribuem para o reforço do sistema imunitário, a melhoria da digestão e o alívio de inflamações.

Contudo, apesar dos seus benefícios, o mel pode conter esporos da bactéria Clostridium botulinum. Em adultos, esses esporos não representam perigo, já que o trato gastrointestinal consegue eliminá-los. Mas nos bebés, especialmente menores de 24 meses, o sistema digestivo ainda imaturo pode permitir que esses esporos germinem e produzam toxinas. O resultado pode ser o botulismo infantil — uma condição rara, mas potencialmente grave, que afeta o sistema nervoso e pode causar fraqueza muscular, dificuldades respiratórias e, em casos extremos, risco de vida. Por esse motivo, não é recomendado oferecer mel a crianças com menos de dois anos.

Atenção à qualidade do mel: nem todo mel é igual

Apesar dos inúmeros benefícios do mel, a sua qualidade pode variar imensamente. Para garantir os efeitos terapêuticos e nutricionais desejados, é essencial estar atento a alguns fatores. O ideal é optar por mel cru (não pasteurizado), de origem biológica, artesanal e local, proveniente de pequenos apicultores comprometidos com boas práticas de produção. O mel industrializado, frequentemente aquecido ou adulterado com xaropes e açúcares, perde parte significativa das suas enzimas, antioxidantes e propriedades medicinais.
Dá preferência a méis vendidos em frascos de vidro escuro, que protegem da luz e mantêm melhor a integridade dos compostos. Verifica se a origem geográfica está identificada, se tem rótulo claro e sem ingredientes adicionados — o mel verdadeiro deve conter apenas "mel" como ingrediente. Sempre que possível, apoia produtores locais e feiras de agricultura biológica, onde é mais fácil conhecer o processo de produção e a origem floral do mel que estás a consumir.

Própolis - A aarmadura natural da colmeia e da nossa saúde


O própolis é uma resina complexa que as abelhas recolhem de árvores e modificam com enzimas, transformando-a num poderoso agente protetor da colmeia contra fungos, bactérias e vírus. Este "cimento biológico" da colmeia é também uma das substâncias naturais mais estudadas pela ciência devido às suas propriedades medicinais.

Rico em flavonoides e compostos fenólicos, o própolis apresenta ação antimicrobiana, anti-inflamatória, imunomoduladora e antioxidante. Pode reforçar a atividade de células de defesa como macrófagos e linfócitos, ajudarr na regeneração de tecidos, proteger contra o stress oxidativo e modular respostas inflamatórias. Está a ser estudado inclusive como coadjuvante em infeções respiratórias, lesões da mucosa oral e até em abordagens integrativas no apoio à saúde intestinal e cutânea.

O uso do própolis pode ser feito sob várias formas: extrato alcoólico, spray, pastilhas ou em formulações tópicas. É geralmente seguro, embora deva ser usado com precaução em pessoas alérgicas a produtos apícolas.

Geleia Real – Vitalidade e longevidade vindas da colmeias


A geleia real é um dos alimentos mais especiais produzidos pelas abelhas. Secreta pelas glândulas hipofaríngeas das abelhas operárias jovens, é a nutrição exclusiva da rainha durante toda a sua vida, e é precisamente isso que a distingue: enquanto uma abelha comum vive cerca de 45 dias, a rainha pode viver de 4 a 6 anos. Essa diferença impressionante é atribuída, em grande parte, à riqueza da geleia real. Este alimento é composto por proteínas de alta qualidade, vitaminas do complexo B (notavelmente a B5 e a B6), minerais, ácidos gordos essenciais (como o 10-HDA), enzimas e compostos bioativos com ação antioxidante, anti-inflamatória e até hormonal. 

É utilizada tradicionalmente para aumentar a energia, combater o cansaço, melhorar a fertilidade e apoiar a saúde da pele e do sistema nervoso. Estudos indicam que a geleia real pode contribuir para a modulação hormonal em mulheres na menopausa, fortalecer o sistema imunitário e proteger contra o stress oxidativo celular. Ainda que seja um alimento seguro para a maioria das pessoas, deve ser usado com cautela em indivíduos alérgicos a produtos apícolas.

Pão de Abelha – O fermentado da colmeia


Pouco conhecido fora do círculo da apiterapia, o pão de abelha é um verdadeiro superalimento. Trata-se do pólen armazenado nas células da colmeia e fermentado naturalmente pelas abelhas, com adição de enzimas, néctar e secreções salivares. Este processo de fermentação transforma o pólen em uma forma ainda mais biodisponível e digerível, rica em lactobacilos e ácidos orgânicos, com propriedades antioxidantes e imunomoduladoras. O pão de abelha é uma fonte impressionante de proteínas, aminoácidos essenciais, vitaminas (especialmente do complexo B), ferro, selénio e flavonoides. Tem sido associado ao aumento da resistência física, à recuperação após esforço, ao apoio da microbiota intestinal e ao equilíbrio hormonal. É especialmente valorizado em contextos de convalescença, envelhecimento ativo e como reforço nutricional natural.

Veneno de Abelha – O potencial terapêutica


Embora seja o mais controverso dos produtos apícolas, o veneno de abelha vem ganhando espaço na investigação científica pelos seus efeitos anti-inflamatórios e neuroprotetores. Contém compostos como melitina, apamina e fosfolipase A2, que demonstraram ação analgésica, antitumoral e imunomoduladora. A apiterapia tradicional já utilizava o veneno para tratar dores articulares, artrite e doenças autoimunes. Hoje, ensaios clínicos exploram o seu potencial no apoio a doenças como Parkinson, esclerose múltipla, artrite reumatoide e outras condições neurodegenerativas ou inflamatórias crónicas. Naturalmente, o uso do veneno requer precauções rigorosas, pois pode desencadear reações alérgicas graves. Quando bem indicado e administrado por profissionais qualificados, pode abrir novas portas na medicina integrativa.

Pólen - Nutrição em forma de grão


O pólen, recolhido pelas abelhas nas flores, é um concentrado natural de nutrição. Contém proteínas de alto valor biológico, vitaminas (A, B, C, D e E), minerais como ferro, zinco e selénio, enzimas e antioxidantes. É considerado um superalimento, especialmente útil em estados de convalescença, défices nutricionais e como suporte para o desempenho físico e cognitivo.

Estudos indicam que o pólen tem potencial para modular a resposta imunitária, melhorar o metabolismo hepático e regular o equilíbrio hormonal, sendo particularmente interessante em fases como a menopausa ou na gestão de stress oxidativo.

Formas de consumo de cada produto da colmeia


Mel – Mais do que um adoçante natural, o mel é um alimento funcional. Pode ser consumido puro, em jejum ou antes de dormir, misturado com limão, canela ou chás, usado para adoçar papas, iogurtes, sumos naturais ou em receitas culinárias saudáveis. Em aplicações externas, é usado em máscaras de pele, feridas e queimaduras leves.

Própolis – O própolis é geralmente consumido em extrato hidroalcoólico ou alcoólico, aplicado diretamente na boca ou diluído em água, mel ou infusões. Existe também em forma de spray, cápsulas, pastilhas, cremes tópicos e loções. É uma excelente opção para fortalecer a imunidade, aliviar dores de garganta ou tratar aftas e pequenas infeções cutâneas.

Geleia Real – A geleia real pode ser consumida fresca (refrigerada), em pequenas quantidades sob a língua ou diluída em mel. Também existe em forma de cápsulas liofilizadas, combinando praticidade e conservação. Deve ser tomada preferencialmente em jejum, em ciclos de 21 dias a 3 meses, para reforço energético, hormonal ou imunológico.

Pão de Abelha – O pão de abelha é consumido em grãos mastigados diretamente ou misturado em sumos, iogurtes, smoothies, frutas ou papas. Tem um sabor levemente ácido e complexo, resultado da fermentação. É ideal para desportistas, idosos e pessoas em recuperação, podendo ser tomado de manhã ou antes das refeições como reforço nutricional.

Veneno de Abelha – O veneno de abelha não é consumido como alimento, mas administrado por via terapêutica sob orientação especializada. As formas de uso incluem picadas controladas, injeções com veneno purificado ou cremes tópicos com baixas concentrações, usados em contextos de apiterapia. Só deve ser aplicado por profissionais habilitados, devido ao risco de reações alérgicas graves.

Pólen – Pode ser consumido em grãos secos ou frescos, de preferência em jejum, mastigado ou misturado com água morna, sumos, batidos, frutas ou mel. Algumas pessoas também o consomem em forma de cápsulas. A dose pode variar entre 1 a 2 colheres de chá por dia, aumentando gradualmente. Excelente para reforçar a imunidade, a energia e a vitalidade geral.

A colmeia é, sem dúvida, uma farmácia natural viva. O mel nutre, adoça e cura, desde que usado com consciência e respeitando as suas limitações etárias. O própolis atua como escudo, protegendo e reforçando o organismo. E o pólen, por sua vez, é uma dádiva nutricional em grão, apoiando a vitalidade e a imunidade.

A natureza oferece, mas cabe-nos conhecer e usar com sabedoria. Ao resgatarmos o valor destes produtos apícolas, com os olhos na ciência e os pés assentes no saber tradicional caminhamos para uma saúde mais natural, preventiva e integrada.

Deborah Peres

Coordenadora Editorial
Criadora de Conteúdo e Redação
Idealizadora do projeto Naturamente

Finalista em Naturopatia – COOPMIC Portugal

Instrutora de Yoga em formação - Yoganaya International School

Esteticista e Cosmetologista – UNIC Brasil

Formação complementar em Coaching de Saúde e Bem-Estar: Abordagem Integrativa

Jady Firmino

Coordenadora
Revisão e Coordenação de Artigos
Tutora Geral

Naturopata – IPN Lisboa

Especialista em Modulação Intestinal e Neurodesenvolvimento Fetal

Escritora do livro infantil sobre microbiologia intestinal: Os Bichinhos do Bem

Idealizadora do projeto de educação alimentar e saúde infantil: Nutrir Gerações