
	Luz à noite, mente em alerta: o que a ciência revela sobre usar o telemóvel antes de dormir
			            Vivemos rodeados de luzes. Lâmpadas, ecrãs, notificações… A claridade já não se apaga quando o sol se põe. E, se antes o escurecer era o sinal natural para o corpo entrar em repouso, hoje ele disputa espaço com a luz fria do telemóvel.
Mas o que parece apenas um hábito moderno — deslizar o ecrã antes de adormecer — tem efeitos profundos sobre o sono, a mente e o equilíbrio do organismo.
A ciência confirma o que a natureza sempre soube
Um estudo recente publicado na revista Nature Mental Health acompanhou mais de 85 mil pessoas e demonstrou algo incontornável: a exposição à luz noturna está associada a um aumento significativo do risco de distúrbios mentais, incluindo depressão, ansiedade, transtorno bipolar, psicose, stress pós-traumático e comportamentos autodestrutivos.
O mesmo estudo observou o efeito oposto durante o dia: a exposição à luz solar diurna reduziu o risco dessas mesmas condições.
Ou seja, quanto mais vivemos em sintonia com o ciclo natural da luz — dia claro, noite escura — mais protegidos estamos.
Isto confirma um princípio básico da vida: o corpo humano é regido por ritmos. E quando a luz artificial interrompe esses ciclos, há descompasso — biológico, emocional e energético.

O relógio interno: uma sinfonia que depende da luz
O nosso organismo funciona como uma orquestra afinada pelo ritmo circadiano — um relógio biológico que regula sono, vigília, humor, temperatura corporal, metabolismo e produção hormonal.
A melatonina, conhecida como "hormona do sono", é uma das protagonistas desse ciclo. Ela começa a ser libertada naturalmente quando o ambiente escurece, sinalizando ao corpo que é hora de descansar.
O problema é que a luz azul emitida pelos ecrãs digitais (telemóveis, tablets, televisões, computadores) envia uma mensagem contrária ao cérebro: "Ainda é dia."
Com isso, a produção de melatonina é inibida, o adormecer é adiado e o sono torna-se mais leve e fragmentado.
E o impacto não se resume à fadiga. A privação crónica de sono e a exposição noturna à luz estão ligadas a:
- desequilíbrios hormonais (como cortisol elevado e resistência à insulina); 
- alterações no humor e na capacidade de lidar com o stress; 
- maior risco de depressão, ansiedade e transtornos afetivos; 
- enfraquecimento do sistema imunitário e aumento da inflamação sistémica. 

Luz de dia, escuro à noite: o equilíbrio perdido
A luz é um dos mais potentes sincronizadores biológicos.
A exposição adequada à luz solar pela manhã ajuda a "reiniciar" o relógio interno, estimula a produção de serotonina (hormona do bem-estar) e prepara o corpo para libertar melatonina à noite.
Mas o estilo de vida moderno criou uma inversão preocupante: passamos o dia em ambientes fechados, com luz artificial fraca, e as noites sob iluminação intensa, muitas vezes até dentro do quarto.
Resultado: ficamos "desritmados", cansados de manhã e inquietos à noite.
Mas o estilo de vida moderno criou uma inversão preocupante: passamos o dia em ambientes fechados, com luz artificial fraca, e as noites sob iluminação intensa, muitas vezes até dentro do quarto.
Resultado: ficamos "desritmados", cansados de manhã e inquietos à noite.
A sabedoria tradicional — e a naturopatia há muito reconhece — já observava isso.
Os antigos respeitavam o pôr do sol como sinal de recolhimento, e o nascer do dia como convite ao movimento.
O corpo, quando escutado, ainda segue essa mesma linguagem.

Um olhar naturopático sobre a luz
Do ponto de vista naturopático, a saúde nasce da harmonia com os ritmos naturais.
A luz é energia vital — quando usada no momento certo, nutre; quando usada fora do tempo, desorganiza.
Reeducar a relação com a luz é um gesto terapêutico.
É permitir que o corpo recupere a sua inteligência biológica, que o sono volte a ser reparador e que a mente reencontre o silêncio necessário à regeneração.
A naturopatia vê o sono não como um fim do dia, mas como um ritual de cura — um tempo em que o organismo se purifica, regenera tecidos, equilibra emoções e integra experiências.
E a escuridão é parte desse ritual.
Pequenas mudanças, grandes efeitos
Não é preciso viver à luz de velas para respeitar a natureza da noite.
Mas é possível ajustar o ambiente e os hábitos para que a transição entre dia e noite seja mais natural.
Sugestões práticas:
- Desliga o ecrã pelo menos 1 hora antes de dormir. 
- Usa luzes quentes no final do dia (amareladas ou âmbar). Evita luz branca e azul intensa após o pôr do sol. 
- Evita levar o telemóvel para o quarto. Se for necessário, ativa o modo "noturno" e coloca em modo avião. 
- Expõe-te à luz solar pela manhã. Mesmo 15 minutos de luz natural ajudam a regular o relógio interno. 
- Cria um ritual noturno: um chá calmante, respiração profunda, leitura leve, ou um pequeno diário de gratidão. 
- Cultiva o escuro: reduz luzes residuais no quarto (luzes de standby, cortinas finas, relógios iluminados). 
Esses ajustes simples restauram o que o corpo conhece por instinto: a diferença entre dia e noite.

Conclusão — o retorno ao ritmo da Terra
A tecnologia trouxe conforto, mas também um certo afastamento da natureza.
O corpo humano, porém, não evoluiu à mesma velocidade.
Ele continua a pedir escuridão para descansar, e luz solar para despertar.
Voltar a respeitar o ciclo natural da luz é mais do que uma recomendação científica — é um ato de reconexão com a Terra, com o tempo e com nós mesmos.
Desligar o telemóvel à noite pode parecer um gesto pequeno, mas é, na verdade, um ritual de presença, uma escolha de cuidado e de consciência.
Entre o brilho do ecrã e o brilho da lua, o corpo reconhece apenas um como verdadeiro.
E é nesse escuro tranquilo que a mente encontra o seu repouso.