
A NATUREZA QUE CURA: O PODER DO BANHO DE FLORESTA E DO ATERRAMENTO NA REDUÇÃO DO STRESS
Vivemos em um momento em que o ritmo acelerado, o excesso de estímulos digitais e a constante pressão social e profissional têm tornado o stress uma realidade quotidiana para muitas pessoas. Em resposta a este desequilíbrio, práticas naturais e ancestrais como os banhos de floresta (Shinrin-Yoku) e o aterramento (grounding ou earthing, em inglês) têm ganhado atenção da ciência contemporânea pelos seus efeitos positivos na saúde mental e física.
Mas como exatamente o simples ato de caminhar por uma floresta ou de andar descalço na terra pode influenciar o nosso sistema nervoso, os níveis de stress e até mesmo a inflamação no corpo? A resposta começa na conexão profunda e essencial entre o ser humano e a natureza.

O QUE `É O BANHO DE FLORESTA SHINRIN-YOKU?
Originado no Japão nos anos 1980, o termo Shinrin-Yoku significa literalmente "banho de floresta" e refere-se à prática de imersão consciente em ambientes naturais, com atenção plena às sensações e estímulos da natureza — sons, aromas, texturas e paisagens. Não se trata apenas de caminhar na floresta, mas sim de estar presente, respirando profundamente, tocando as árvores e desacelerando.
Estudos recentes demonstram que essa prática pode ter efeitos significativos na redução do stress e na melhoria do bem-estar emocional. Num ensaio clínico conduzido em Itália com participantes expostos a dois dias de imersão florestal, observou-se uma redução significativa dos níveis de cortisol salivar (hormona associada ao stress), um aumento da variabilidade da frequência cardíaca (HRV – indicador de equilíbrio do sistema nervoso autónomo) e uma diminuição da atividade eletrodérmica (indicador de ativação simpática) (Queirolo et al., 2024).
Além disso, investigações com profissionais de saúde — uma população frequentemente exposta a burnout — indicam que o Shinrin-Yoku promove um bem-estar subjetivo notável, mesmo após uma única sessão de três horas, reforçando o seu potencial como prática complementar na prevenção do esgotamento profissional (Kavanaugh et al., 2022).

ATERRAMENTO: Voltar a Tocar a Terra
Aterramento ou Grounding refere-se ao contacto direto da pele com a superfície da Terra — por exemplo, andar descalço sobre relva húmida, areia ou solo, ou utilizar dispositivos condutores que ligam o corpo ao campo eléctrico natural do planeta. A hipótese por detrás do aterramento sugere que a Terra possui uma carga elétrica negativa que, ao ser absorvida pelo corpo humano, pode ajudar a neutralizar radicais livres e reduzir inflamações.
Num estudo conduzido com terapeutas corporais, o aterramento demonstrou benefícios evidentes: houve uma melhoria na qualidade do sono, aumento de energia, redução da fadiga, dores físicas, sintomas depressivos e stress emocional. Estes efeitos foram particularmente marcantes nas semanas em que os participantes dormiram em contacto com dispositivos de aterramento e trabalharam em contacto com tapetes condutores (Chevalier et al., 2019).
Do ponto de vista fisiológico, os autores também observaram melhorias na variabilidade da frequência cardíaca, viscosidade sanguínea e marcadores inflamatórios — indicadores fundamentais para a saúde cardiovascular e imunológica.
Efeitos Cientificamente Comprovados
Com base nos três estudos analisados, podemos resumir os seguintes efeitos principais dos banhos de natureza e do aterramento:
- Redução do cortisol, hormona do stress.
- Melhoria da variabilidade da frequência cardíaca (HRV), um sinal de equilíbrio autonómico e maior resiliência ao stress.
- Diminuição da atividade do sistema nervoso simpático (sinal de relaxamento fisiológico).
- Melhoria da função física, redução da dor e da fadiga.
- Promoção de bem-estar emocional e sensação de conexão com o ambiente e outras pessoas.
Embora alguns estudos não tenham identificado diferenças estatisticamente significativas em escalas específicas de burnout após uma única intervenção, o relato subjetivo dos participantes destaca reduções claras no stress e melhorias na disposição mental.

Mata do Bussaco: o tesouro natural com potencial terapêutico em Portugal
Em Portugal, um exemplo notável do poder curativo da natureza encontra-se na Mata Nacional do Bussaco, na vila do Luso. Com árvores centenárias, sequoias imponentes, cedros monumentais e paisagens de rara beleza, esta floresta é considerada um verdadeiro santuário natural. Graças às suas características botânicas, a Mata do Bussaco aguarda apenas a certificação oficial como Floresta Terapêutica, atribuída pelo Gabinete de Florestas Terapêuticas — sendo já reconhecida como a primeira da Península Ibérica a cumprir todos os critérios.
Segundo Guilherme Duarte, presidente da Fundação Bussaco, esta floresta "vai fazer bem a quem nos visita, para retemperar energias de uma forma diferente". A procura por este espaço mágico tem vindo a crescer, com visitantes de todo o mundo — destacando-se israelitas, americanos e espanhóis — em busca de tranquilidade, conexão e bem-estar.
Com mais de quatro séculos de história, a Mata do Bussaco é ainda candidata a Património Mundial da UNESCO e à Marca Património Europeu, reforçando o seu valor como monumento vivo e espaço de regeneração profunda.

COMO INTEGRAR ESTAS PRÁTICAS NO SEU DIA A DIA?
Incorporar o contacto com a natureza na rotina pode ser mais simples do que parece:
- Reserve 20 a 30 minutos por dia para caminhar num parque, bosque ou à beira-mar, com atenção plena aos sons, cores e cheiros.
- Sempre que possível, ande descalço em relva, areia ou terra. Esta prática simples pode ser feita em jardins, parques ou mesmo em casa com uso de tapetes condutores.
- Faça pausas conscientes ao ar livre durante o dia — mesmo uma pequena caminhada de 10 minutos pode fazer diferença.
- Integre elementos da natureza nos seus espaços interiores: plantas, luz natural, sons da natureza ou aromaterapia com óleos essenciais florestais.
A ciência só confirma o que a sabedoria ancestral já sabia: a natureza cura. Práticas como o banho de floresta e o aterramento não são apenas experiências agradáveis, mas intervenções com efeitos fisiológicos reais, capazes de regular o sistema nervoso, reduzir o stress e melhorar a qualidade de vida. Em tempos de desequilíbrio, o reencontro com a Terra — literal e simbolicamente — pode ser o caminho mais simples e poderoso para o bem-estar.
Referências
Chevalier, G., Patel, S., Weiss, L., Chopra, D., & Mills, P. J. (2019). The effects of grounding (earthing) on bodyworkers' pain and overall quality of life: A randomized controlled trial. Explore.
Kavanaugh, J., Hardison, M. E., Rogers, H. H., White, C., & Gross, J. (2022). Assessing the impact of a Shinrin-Yoku (forest bathing) intervention on physician/healthcare professional burnout: A randomized, controlled trial. International Journal of Environmental Research and Public Health.
L., Fazia, T., Roccon, A., Pistollato, E., Gatti, L., Bernardinelli, L., Zanette, G., & Berrino, F. (2024). Effects of forest bathing (Shinrin-yoku) in stressed people. Frontiers in Psychology.

Deborah Peres
Coordenadora Editorial
Criadora de Conteúdo e Redação
Idealizadora do projeto Naturamente
Finalista em Naturopatia – COOPMIC Portugal
Instrutora de Yoga em formação - Yoganaya International School
Esteticista e Cosmetologista – UNIC Brasil
Formação complementar em Coaching de Saúde e Bem-Estar: Abordagem Integrativa
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Jady Firmino
Coordenadora
Revisão e Coordenação de Artigos
Tutora Geral
Naturopata – IPN Lisboa
Especialista em Modulação Intestinal e Neurodesenvolvimento Fetal
Escritora do livro infantil sobre microbiologia intestinal: Os Bichinhos do Bem
Idealizadora do projeto de educação alimentar e saúde infantil: Nutrir Gerações